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A vida de Freelancer

Atualizado: 14 de mar. de 2023


Truques para que a vida de ‘frila’ não acabe com seus nervos é o título original deste artigo que recebi sobre a vida de um profissional autonomo, ou mais conhecido como freelancer, e gostaria de compartilhar com vocês. Este artigo foi originalmente publicado por Sergio C. Fanjul, em El País.

Freelance: esse sujeito sortudo que pode trabalhar de pijama ou enquanto cozinha, sem precisar acordar de madrugada para ir a um escritório distante, que pode decidir os próprios horários e ter dias livres a seu bel-prazer. A vida boa. Mas que também tem inconvenientes, claro: instabilidade, tarifas baixas, férias não remuneradas e renda flutuante. Viver na corda bamba. O que não se conhece tanto são os perigos que a atividade representa para o bem-estar mental e a vida cotidiana desses surfistas do mercado de trabalho. A liberdade é muito dura e vem acompanhada de procrastinação, gestão ruim do tempo, sedentarismo, ansiedade, apatia e medo. Como superá-los?

Um estudo do hospital de Bellvitge, de Barcelona (Espanha), publicado em janeiro alerta sobre o perigo do trabalho autônomo. Os pesquisadores dizem que o fator mais diretamente associado com uma licença de longa duração por problemas de saúde mental (de ansiedade a esquizofrenia) é o regime laboral: os autônomos têm o dobro de chances de necessitá-la.


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Por quê? O estudo não procurou as causas, mas os psiquiatras sugerem que o fenômeno se deve à maior vulnerabilidade desses profissionais e também ao fato de que recebem menos da seguridade social (os que a possuem) e esperam até o último momento para solicitar a licença, quando a doença já se agravou.

Não deixe para amanhã...

Entre tudo o que pode acontecer dentro da cabeça de um frila, um dos problemas fundamentais é a procrastinação: a tendência a deixar para amanhã (ou mais tarde) o que podemos fazer hoje (ou agora mesmo). As distrações são cada vez mais numerosas: redes sociais, videogames, imprensa digital, geladeira, TV, bar... Afinal, somos nossos próprios chefes. Mas a procrastinação não é brincadeira: há quem adie a visita ao médico sempre para o dia seguinte e, quando finalmente a realiza, sua doença já está grave ou irreversível, como afirma Piers Steel no livroA Equação de Deixar para Depois (Editora Best Seller, 2012).

“Quando procrastinamos, a consciência sofre golpes e vivemos imersos num contínuo mal-estar”, diz o psicólogo clínico Fernando Azor. O ser humano tende a aproveitar mais uma recompensa de curto prazo (navegar nas redes sociais e sair para fumar, por exemplo) que de longo prazo (acabar o trabalho e receber no final do mês). Assim, sempre encontramos explicações racionais para deixar as coisas para depois. Quem não se pôs a limpar a casa em vez de terminar um trabalho?

“Essencialmente, há várias razões para procrastinar: excesso de perfeccionismo, medo e insegurança e ter de fazer coisas que realmente não desejamos. São três fatores que nos paralisam”, explica Azor. O antídoto? “A renúncia correta”, segundo o psicólogo. Ou seja, deixar de fazer coisas demais no mesmo dia e de ser perfeccionista além da conta. Há outros conselhos: fazer listas de objetivos diários, priorizar as tarefas mais importantes, eliminar distrações (desativando as redes sociais, por exemplo) e, sobretudo, ter expectativas realistas: não se propor a fazer mais coisas do que podemos num dia – o que nos levaria ao fracasso, à frustração e ao desencanto. O mais difícil é quebrar a barreira mental do minuto um: colocar as mãos na massa. Uma vez que você começa a trabalhar, as coisas fluirão mais.

Não tenha medo do futuro

Os frilas costumam viver regulando os gastos, pois sempre vivem altos e baixos. A carga de trabalho flutua: passam dias sem nada para fazer e outros atolados de tarefas. Na temporadas de vacas magras, o frila pensa que o futuro é tenebroso; e quando há picos de trabalho, fica cheio de otimismo... e estresse.

Uma vez mais, a solução é se organizar corretamente. “De novo é preciso recorrer à renúncia”, diz Azor. “Os autônomos costumam aceitar todos os trabalhos que lhes oferecem, pois não há garantia de trabalho no futuro. Às vezes, porém, é preciso reconhecer que estamos no limite e que é preciso renunciar.”


O ser humano tende a aproveitar mais uma recompensa de curto prazo que de longo prazo

Uma forma óbvia e boa de enfrentar essa instabilidade, esse medo do futuro laboral, é economizar. Com uma boa poupança, você vê tudo de outra maneira. Por isso, aproveite essas temporadas de trabalho para encher um pouco o cofre.

Para frear a ansiedade galopante, é importante aprender a se desconectar. “Os autônomos costumam estar sempre checando os e-mails e o telefone, pois nunca se sabe quando pode aparecer um cliente. Mas é preciso ter horas de desconexão”, diz Azor. Para o cliente, é muito bom que o freelance esteja sempre disponível, mas não tanto para a saúde do próprio trabalhador. Portanto, aprenda a separar entre o tempo de prazer e o tempo de trabalho. Não responda aos e-mails da poltrona do cinema nem acabe um projeto de madrugada. Além disso, convém combater os nervos como qualquer outra pessoa: com boa alimentação, exercício físico (a academia, além de nos proporcionar um bíceps contundente, ajuda a sair de casa), redução do consumo de álcool, ioga ou meditação, segundo os especialistas consultados.

Saia da sua jaula

“Aqui é como minha segunda casa”, afirma o escritor e jornalista Eduardo Laporte, sentado a uma mesinha de uma livraria-café em Madri. “Se, por ser autônomo, eu ficasse o dia todo em casa, acabaria falando com as plantas. Passo nesses lugares ao redor de um terço da minha vida laboral.”

Muitos autônomos possuem escritório a escassos cinco metros da cama: os que vão do quarto à mesa da sala. Trabalhar em casa pode ser fantástico, mas também complicado. As pessoas que vão a um escritório se veem obrigadas, toda manhã, a tomar banho, vestir-se bem e tomar um meio de transporte para chegar ao emprego: neste momento, já aceitaram que é hora de trabalhar. Mas se o sujeito fica em casa, como detectará que chegou o momento de começar, se continua escornado no sofá com remelas nos olhos e o olhar perdido no noticiário da manhã?

As soluções são várias: de tomar banho e se vestir como se fôssemos ao escritório (coisa, vamos admitir, pouco realista) até sair para tomar café ou ir à academia. De volta à casa, saberemos muito bem que é hora de arregaçar as mangas.

Uma opção pode ser trabalhar fora de casa. A melhor opção é escolher um espaço de coworking (local que oferece comodidades de trabalho para várias pessoas), como os que proliferam por aí. Além de obrigar você a tirar o pijama e colocar mãos à obra, esses lugares prometem boa companhia (o frila vê que não está sozinho), e as famosas sinergias que fazem com que, no ambiente de trabalho compartilhado, surjam novos e apaixonantes projetos.

A versão barata e cada vez mais popular é o bar com conexão a internet, praticada pelo escritor Laporte e por toda uma tropa de autônomos que invadem os cafés sedentos de wi-fi grátis. Há alguns espaços perfeitamente preparados para o trabalho, oferecendo grandes mesas e uma potente conexão à rede. Alguns já andam tão silenciosos e cheios de gente digitando em computadores e tablets que parecem mais escritórios que cafés. Fazer muito barulho neles é motivo de constrangimento. Nesse caso, mantenha silêncio e trabalhe duro.

Seja sociável e sorria

“Para um autônomo, o lado negativo da liberdade é o caos”, escreve o jornalistafreelance Toni García em Autónomos, la guía definitiva (Editora Blackie Books, inédito no Brasil). Um livro que, entre milhares de conselhos sobre notas, remuneração e contratos, dá algumas dicas para a sofrida vida cotidiana. Por exemplo, a disciplina, a poupança, a boa gestão da incerteza, (“manter a cabeça fria em tempos de convulsão”) e a justa competição: “Tente manter a competição em termos legítimos: não deixe de pedir o que acha que é justo e não faça nada que não desejaria que lhe fizessem”, recomenda.

A sociabilidade também importa, pois pode ser muito triste trabalhar o dia todo sozinho e limitar o contato com outros seres humanos a e-mails e ligações telefônicas. Mas também porque frequentar diferentes reuniões sociais torna o frila mais conhecido entre sua possível clientela e atrai trabalho. “Sempre que possível, obrigue-se a sair à rua. Aprenderá muito sobre como funcionam os modernos circuitos de trabalho e conhecerá pessoas que podem ajudar você no futuro.”

Ah, e leve sempre um sorriso, diz García. “Isso não servirá de nada, mas quebrará o clima com o diretor do banco, seus competidores e até mesmo seu vizinho. Os autônomos hão de ser desconcertantes, não se esqueça disso.”

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